Bota Rota

Saudações trekkianas,

Bota Rota é o nome de um pequeno grupo de trekking que desde 2001 percorre vários espaços naturais só para contemplar o que melhor nos dá a Mãe-Natureza: os animais, as plantas, as paisagens, o silêncio e a camaradagem (aproveitamos e damos algum descanso às nossas cara-metade).

Para além da sensibilização para a conservação do meio ambiente e da biodiversidade, este espaço pretende ser uma exteriorização desses momentos vividos pelos elementos que compõem o Bota Rota.

Aqui, podem ler, contemplar e rir das nossas pequenas aventuras, através dos textos e das fotos que, a muito custo, trazemos para casa, pois após grandes distâncias percorridas, até as fotos pesam!

Como ainda não somos profissionais, as nossas actividades são poucas, pequenas e vagarosas. Portanto, não pensem que estão num blog de grandes montanhistas. Apesar de termos alguma experiência, alguns com mais de 25 anos, o objectivo do Bota Rota é viver, saborear, fotografar, conhecer e não ser um papa-quilómetros!

Espero que, neste espaço, consigamos transmitir toda a nossa diversão em campo e que se divirtam com as nossas vivências, que fazem parte desta curta vida, neste maravilhoso planeta a que chamamos Terra.

Jorge Sousa

terça-feira, 14 de setembro de 2010

As áreas naturais e os seus intervenientes.


Muito se tem falado, discutido e especulado, sobre a conservação das nossas áreas naturais, a sua recente e polémica legislação, os incêndios e as pessoas que, de alguma forma, praticam actividades nesses espaços únicos.

A primeira impressão que tenho é que as diversas instituições trabalham isoladas entre si, muito provavelmente de costas viradas.

Os nossos governantes não têm investido o suficiente nestas áreas. Longe vão os tempos em que se viam guardas florestais sempre em cima dos acontecimentos, cantoneiros permanente a conservar os estradões, etc., etc. São públicas as notícias sobre automóveis do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) sem dinheiro para as mudanças de óleo, vigilantes sem verba para exercer as suas funções e atrasos nas indemnizações aos pastores, entre outras coisas. Está visto que isto de conservação das áreas naturais não é coisa de primeira necessidade para o Governo. E como o Estado não quer gastar dinheiro, proíbe! Cria obstáculos de maneira a limitar ao máximo, as visitas aos espaços naturais.

Está provado que, o dinheiro poupado nos vigilantes foi mais que gasto nos meios de combate ao incêndio. Com as agravantes de se gastar mais dinheiro, de se perderem vidas e biodiversidade e de enegrecerem os nossos mais belos espaços naturais.

Aos montanheiros e similares, são lhes condicionadas - para não dizer vedadas - as actividades, em vez de aproveitarem a força voluntária destes elementos que palmilham as nossas serras. Inseridos em instituições, grupos ou individualmente, esta força, que de uma maneira geral, rege-se por normas de ética ambiental, poderia ser uma mais-valia ao serviço dos parques e reservas de Portugal.

Certo dia, no final de uma caminhada pela Serra do Gerês, apanhamos boleia num reboque de um tractor de um apicultor. Durante a conversa, o simpático senhor disse-nos que era uma alegria ver caminheiros pela serra pois, assim havia menos probabilidades de incêndio.

Ora, devidamente orientadas, estas pessoas, grupos ou instituições, poderiam estar inscritas no ICNB ou outra instituição similar e participariam as suas actividades (identificação, data, percurso e número de pessoas) a esta organização. Falo de participação e não um pedido de autorização. Claro que o ICNB ou outro poderia desaconselhar a zona por haver outras participações, para esse local, nesse dia.

Em contrapartida, os montanheiros seriam os vigilantes no terreno que entrariam em contacto com as autoridades, denunciando quaisquer anomalias.

Desta maneira, existiria melhor e mais eficaz vigilância no terreno. Os montanheiros continuariam a fazer as suas actividades, com responsabilidades na prevenção de fogos e, inclusive, na denúncia de outro tipo de infracções.

Sei que esta ideia carece de aprofundado estudo, aperfeiçoamento e, acima de tudo, concertação entre todas as partes envolvidas mas, com boa vontade, empenho e o uso de conhecimentos especializados por parte das entidades competentes, poderemos tornar os nossos magníficos mas sensíveis parques naturais, mais protegidos e mais acessíveis.

Jorge Sousa

6 comentários:

  1. Concordo plenamente com a ideia...

    Saudações montanheiras e continuação de boas caminhadas.

    White Angel

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  2. Boa noite,

    É a primeira vez que me cruzo com este blog mas já vi que é 'casa' de amigos... Olá Dorita! :)

    Devo dizer que concordo plenamente com o modelo de gestão das ditas 'cargas' sobre a Serra. Ainda que com outras variantes, como a obrigatoriedade de frequentar uma horitas de formação/sensibilização, penso que este seria definitivamente o caminho e não ridículas de tão confusas portarias que nenhum valor acrescentam.

    Um abraço montanheiro.

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  3. O Estado tem a obrigação de vigiar as montanhas e não devem ser os montanheiros que devem ser os vigilantes. Percebo a tua ideia, Jorge, mas a forma como ela está explicada vem desresponsabilizar o Estado das suas obrigações. É para isso que pagamos impostos e outros afins.

    Por outro lado, acho incrível como se pode concordar com esta ideia só pelo facto de não se pedir autorizações. Eu peço-as e nunca me senti diminuido nem muito menos limitado nas actividades que faço. É óbvio que existem zonas que devem ser protegidas pelo estatuto que têm. Não se podem pedir regras numa manifestação e na realidade fazer as coisas a seu belo prazer. Não se pode estar numa manifestação só para mostrar e não assumir aquilo por que se gritou. Muita gente fez isso e agora vangloria-se nos blogues pelas coisas que faz. Haja decência!

    No que diz respeito às cargas é uma falsa questão. Quantas e quantas caminhadas faço sozinho no Gerês, por exemplo, e nunca encontro ninguém? Imensas vezes! A questão das cargas devia-se colocar onde os domingueiros veraneantes vão. Aí sim, no meio da serra isso não existe.

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  4. Olá Rui. Relativamente às cargas, falo delas como uma possível precaução. Na realidade, a mim, também acontece não ver ninguém ou, apenas algumas pessoas. No que diz respeito às autorizações, tanbém gosto de respeitar as regras. O que eu acho é que pode haver alguma "tendência", por parte das autoridades, em negar ou desviar as intenções dos caminheiros. Quanto à questão das vigilâncias, já vimos que não há dinheiro para fazer "cantar um cego". Nem vai haver! Pelo menos, eu não acredito que desse ao Estado, uma repentina vontade de investir onde nunca pensou em investir à séria. Nesse sentido, e para minimizar os danos naquilo que é nosso e que devemos preservar, é que falo desta... ajuda? Abraço, Jorge Sousa

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  5. Eu penso que essa ajuda já existe, pis é nossa «obrigação» de assim actuar. No entanto é uma faca de dois gumes. Dou-te um exemplo: imagina-te numa «acção de vigilância» no entorno actual no qual se deve pedir uma autorização. Pelo caminho encontras um grupo de pessoas que conheces que não a pediu, mas que sabe que a deveria ter pedido. Como actuarias? Imagina que encontras um grupo em campismo selvagem e com uma fogueira acesa numa altura em que o PN foi assolado por violentos incêndios. Como actuarias?

    Eu já fiz vigilência voluntária para o PNPG e senti na pele ter de avisar os serviços do parque acerca de pessoal que estavam acampados nos Carris após um dia terrível de caminhada. E aqui tens de tomar a decisão e pesar na balança o dever e a «camaradagem» entre «montanheiros», «montanhistas» ou como os queremos chamar.

    Por outro lado, que tal a ideia de ir roçar mato para o Vidoeiro enquanto que os guardas florestais fazem o trabalho de vigilância? Se calhar não deve haver assim tanta gente disposta a fazer o trabalho voluntário.

    Jorge, não estou a dizer que a tua ideia (como já havia surgido noutros lados) não seja uma ideia fantástica, mas continuo a dizer que é um dever do Estado. Da mesma forma que existe uma vigilância nas praias, também deve assim existir na montanha. E temos de ser nós a lutar por isso, a exigir que assim seja.

    Temos de ser a água que de tanto bater na pedra haverá um dia de mudar as coisas.

    Temos de ousar lutar, ousar vencer!

    Grande abraço!

    PS - Que tal conversar sobre isto enquanto percorremos a Encosta do Sol no dia 9 de Outubro?

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  6. Boas,
    Eu bem tinha dito que era casa de amigos, olá Rui.
    Esta questão do voluntariado seria, sempre, numa vertente de complementaridade e nunca de substituição dos deveres do Estado (PNPG/ICBN). Sentir-me-ia bem melhor em saber que, pelos menos ao fim-de-semana, quando há mais gente na Serra, não seriam apenas os meia dúzia de vigilantes do Parque a estar atentos e a reportar qualquer situação anómala. E é mesmo disto que se trata, respondendo às questões da fogueira e do acampamento selvagem, a acção a tomar seria sempre a sensibilização das pessoas em questão ou uma comunicação às autoridades competentes a alertar para os factos para que estes pudessem agir. Seria sobretudo uma questão de bom senso (como em quase tudo na vida) e penso que qualquer um de nós saberia distinguir as atitudes irresponsáveis.

    Roçar mato? Porque não? Em situações particulares em que os meios do Parque não conseguissem garantir por si a limpeza de uma determinada área este grupo de ‘voluntários’, e demais sociedade civil, seria útil. Eu pelo menos estaria e estarei sempre disponível a ajudar a conservar a Serra que tanto estimo, como já fiz e faço sempre que lá estou.
    Rui, participei nas duas acções de limpeza (carris,2008 e 2009) e estive na manifestação contra a Portaria, não o fiz para aparecer nas fotos nem por ser moda, fi-lo porque acredito de facto que sejam necessárias regras. Neste momento elas não existem, a prova-lo as cartas, mails, telefonemas para as entidades competentes a solicitar esclarecimentos e a resposta de sempre: ‘pedimos esclarecimento ao Dep. Jurídico’… Mas devo dizer-te desde já que também não concordo com o pedido de autorização, no limite, e como diz o Jorge, uma participação ao PNPG (não ao ICBN) do percurso e n.º de pessoas.
    O que estamos aqui a falar é de uma proposta de uma das regras a criar e não da ausência delas.

    Um abraço, Rui Martins

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